quarta-feira, 25 de junho de 2008

Ode à Caneta Operária

Óh, Minha Caneta!
Enquanto vejo o azul marinho
Na transparência do teu corpo
Ma pergunto:

- Tú que foras feita
pelas mãos de um operário
que é provável
nunca leia este poema
não és também uma operária?

Pois, labutas, incansável
Nesta fábrica de palavras
Que organizas com capricho
Levas à vitrine (que é o verso)
Da mais bela à necessária
E ao lixo mandas
Com um rabisco sobreposto
A que entendes não servir

Conduzes os meus dedos
Pelas luzes da imaginação
E o papel que era branco
Ganha a coloração
Que liberas da esfera
Do teu extremo

Outras, semelhantes a ti
Geradas pelas mesmas engrenagens
Correm folhas por aí
Assinando sentenças
E legitimando guerras

Nós, companheiros de viagem
Nessas horas intermináveis
De inspiração e agonia
Nunca haveremos de compartilhar
Os textos maquiavélicos
Destas atrozes assinaturas
Que desmoronam casas e poemas

Quando observo os teus movimentos
Penso ser eu, o operário a conduzir-te
Que toda a poesia já está em ti
No interior da carga
Que carregas como veia

Por isso, estimado objeto
De horas absortas
Quando vencerem-nos
Estes bárbaros senhores
Com suas canetas sem asas

Debaixo dos escombros
Dos seus ódios
Haverão de achar-nos
Entre letras, abraçados um ao outro
Os arqueólogos de um mundo novo
Que a nossa poesia, imortal
Há de criar.

Serginho Poeta

Um comentário:

Anônimo disse...

"Debaixo dos escombros
Dos seus ódios
Haverão de achar-nos
Entre letras, abraçados um ao outro
Os arqueólogos de um mundo novo
Que a nossa poesia, imortal
Há de criar."

Belos versos!

Abraço,

J.